segunda-feira, 13 de junho de 2016

7 a 1 foi pouco

O futebol evoluiu mundo afora e nós não acompanhamos. Seguimos com a visão do individual sobre o coletivo, e as coisas não funcionam assim no "futebol moderno". Protagonistas têm de conciliar sua qualidade com a bola e sua função tática na equipe. Ainda acreditamos na fórmula mágica de equipe perfeita: zagueiro alto e forte, volante 'brucutu', laterais ofensivos e do meio para a frente os craques que decidem a qualquer momento e não precisam ajudar no trabalho defensivo.
Não dá mais para jogar desta maneira. Não tem fórmula mágica. Temos a qualidade técnica como característica, mas precisamos entender que futebol é coletivo. O individual só decide se o coletivo for forte. O jogo hoje é, sobretudo, ocupação de espaços. Com muito mais intensidade que no passado, com maior necessidade da solidificação de um modelo de jogo pré-definido. Todos jogam, mas todos têm de marcar. Não necessariamente desarmar, mas sim ocupar os espaços e fechar opções de passe. Com a bola, não basta ter visão, passe refinado e técnica. Os movimentos precisam ser coordenados e bem treinados para quebrar as linhas de marcação do oponente e conseguir criar. 
Mas o campo está longe de ser o único problema de nosso futebol. Crescemos ouvindo dos comentaristas que "temos que jogar como Brasil", mas o que é jogar como Brasil? Pouco se discute o jogo de fato na mídia. Quem se prejudica é o telespectador, que constrói sua visão baseada no que escuta, portanto não tem base para levantar possíveis formas da mudança e debater futebol. Precisamos mudar esta cultura imediatista que demite treinador após resultados negativos para "mexer com o ânimo dos atletas" sem sequer analisar desempenho e quem se irá contratar. Futebol precisa de planejamento. De que adianta ter categorias de base se o jogador surge e logo é negociado por um troco para 'aliviar os cofres do clube'? A base serve para construir o futuro!
Um bom exemplo recente de trabalho a longo prazo é o da Alemanha, que começou a construir essa geração em 2004, após eliminação precoce na Eurocopa do ano em questão. Jürgen Klinsmann e Joachim Löw lideraram este trabalho de reconstrução. Objetivo principal era o título da Copa de 2006, disputada na própria Alemanha. 
Klinsmann e Löw no início de trabalho.
Sem o título (3ª colocação e base forte para a sequência do trabalho), Klinsmann deixou o comando da seleção, que ficou com o então assistente, Löw. Geração foi vice da Eurocopa de 2008, 3ª colocada da Copa de 2010 e semifinalista da Euro 2012. O projeto seguiu, a liga nacional melhorou em muitos aspectos, e o orgulho germânico voltou. Evolução grande, mas até então sem nenhum título. Para a Copa de 2014, a Alemanha inovou e construiu um hotel em Santa Cruz Cabrália (BA), para se hospedar e treinar antes e durante a competição. Longe do oba-oba. Muita tranquilidade, seriedade e trabalho. 
Time com ótimos valores individuais, sem dúvida. Mas que tinha como ponto forte o coletivo. 4-1-4-1 que utilizava marcação pressão em bloco alto, troca de passes rápidos, saída de bola qualificada, ocupação de espaços inteligente, etc. Bastian Schweinsteiger como "1º volante", Toni Kroos e Khedira como meias, Özil e Müller nas pontas e Klose na referência. Coletivo extremamente forte e talento decidindo. Título indiscutível, com direito a goleada sobre a multicampeã seleção brasileira na semifinal.
Base da Alemanha tetracampeã do Mundo.

Quase dois anos após o 7 a 1, rigorosamente nada mudou no futebol brasileiro. Seguimos demitindo técnicos sem planejamento, preterindo jovens para ter os medalhões (tanto jogadores quanto técnicos) e inventado seguidas desculpas nas derrotas sofridas. Na Copa 2014, apagão. Na Copa América 2015, virose. Agora, Dunga ou arbitragem. Há quem diga que "a geração é ruim". Que tal aceitar que precisamos repensar o futebol nacional?
Precisamos mudar nossa forma de pensar futebol. Os problemas não são exclusivamente táticos e técnicos, vêm desde os clubes falidos, até os campeonatos com públicos ridículos e a prepotência brasileira ao falar de futebol. Não somos mais os melhores do mundo, apesar de termos uma geração com excelentes nomes (talvez o melhor elenco do mundo, é discutível). 
É difícil aceitar que precisamos mudar, principalmente para quem viu grandes seleções e times do passado. Mas o futebol mudou muito. O saudosismo só atrapalha a evolução do futebol no nosso país. E ajuda a entender o porquê do 7 a 1 e de tantas derrotas seguidas. 
O Brasil parou nas cinco estrelas.

2 comentários:

  1. MUITO BOM SEU COMENTÁRIO,MAS É DIFICIL REPENSAR COM OS DIRIGENTES QUE TEMOS.TALVEZ NOSSO FUTEBOL ESTEJA ENTRANDO EM OUTRO SONHO PARA DEPOIS LAMENTAR "UMA ANDORINHA SOZINHA NÃO FAZ VERÃO"(TITE)

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